- Achei interessante colocar esta notícia visto que se trata exactamente daquilo de que vamos falar e de como começou a investigação e o interesse pela comunidade de cavalos marinhos na Ria Formosa (que é a maior do mundo!):
"A ria Formosa tem a maior comunidade de cavalos marinhos do mundo, espécie em vias de extinção por ser, sobretudo nos países do Sudeste Asiático, utilizada em muitos e variados fins, como a aquariofilia doméstica, a gastronomia, amuletos contra "maus olhados" e a medicina alternativa, apesar de não haver fundamento científico.
A descoberta desta importante colónia composta por mais de 2000 indivíduos, na grande maioria pertencentes à espécie hippocampus guttulatus (na ria habitam ainda os hippocampus hippocampus), coube à bióloga canadiana Jannelle Curtis, ligada ao Projecto Seahorse, quando chegou ao Algarve, em 1999, para estudar as duas espécies que os cientistas sabiam existirem no Sul da Península Ibérica. "Quando comecei a estudar a ria Formosa, deparei-me com um facto curioso muitos dos locais pensavam que os cavalos marinhos eram criaturas mitológicas, como o unicórnio", afirmou.
Poucos sabiam que era real e ninguém imaginava, nem mesmo a comunidade científica local, que as colónias existentes naquele sistema lagunar eram das maiores do mundo", referiu a cientista, na apresentação, em Faro, do Projecto Seahorse, criado com o objectivo de preservar os cavalos marinhos nos seus habitats.
Passado o impacto da surpresa, a bióloga concluiu que a ignorância sobre o animal poderia significar que este não estava em vias de extinção na ria, por ser desconhecido ou desvalorizado, ao contrário do que acontece noutras regiões, como a China, que os utiliza como petisco, ou as Filipinas que, no âmbito de uma tradição pluri milenar, capturam indiscriminadamente milhares de espécies autóctones para amuletos e para a medicina alternativa, sem qualquer fundamento científico. Noutros países usam o animal para embelezar aquários.
O prognóstico de Jannelle confirmou-se quando se instalou no Parque Natural da Ria Formosa (PNRF), para estudar in loco a biologia fundamental das duas espécies e avaliar o impacto das actividades humanas sobre as mesmas. "A comunidade que aqui habita é uma das maiores do mundo, tendo vindo a crescer de forma considerável desde o início do projecto de conservação". Segundo a bióloga, a ria tem "condições e factores naturais únicos para o desenvolvimento daquelas populações águas calmas, propícias a uma espécie marinha que não é boa nadadora".
(imagem de um cavalo marinho macho carregando os filhos http://2.bp.blogspot.com/_uuJO4OQfdU/TLcMVTn3REI/AAAAAAAAAS4/LM7uqvD0ZAo/s1600/CavaloMarinho.jpg)
A ria revelou-se, contudo, um habitat não muito procurado pelos cavalos marinhos que preferem solos com vegetação, ao contrário do que sucede naquele ecossistema, onde vivem em espaços arenosos e abertos ou em fundos lodosos. Embora não tenha os perigos revelados noutras zonas do mundo, a ria possui problemas de poluição, sendo o arrasto, uma das artes pesqueiras mais utilizadas no Algarve, o "maior inimigo da espécie".
Ao longo dos últimos cinco anos, Jannelle Curtis, ajudada por uma vasta equipa de cientistas da Universidade do Algarve e do PNRF, empenhou-se em descobrir, para além do número de indivíduos existentes na ria, como se reproduzem, quantas crias têm, para onde vão os juvenis e quanto tempo vivem. Hoje sabe, por exemplo, que, como espécies monogâmicas que são, os hippocampus locais vivem com um mesmo indivíduo durante a época reprodutória e que são os machos que dão à luz.
A fêmea, explica Jannelle, gera os ovos que deposita numa bolsa na parte frontal do macho e é a ele que compete fertilizá-los num período entre dez dias a seis semanas. . "A fêmea antes do nascimento das crias, faz uma dança com estranhos movimentos em direcção à superfície", adianta a cientista, referindo que o macho dá à luz comprimindo e descomprimindo a barriga repetidas vezes.
"Os cavalos marinhos são uma espécie muito carismática", sustenta, acrescentando ter descoberto que crescem muito depressa (com um ano já nadam à superfície o que é raro) e só vivem cinco anos."
in Diário de Notícias, 6 de Junho de 2005
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